A indústria automotiva dos Estados Unidos enfrenta um dos seus piores momentos na história. Desde 2020, a pandemia do coronavírus, a falta de semicondutores, a guerra na Ucrânia, a inflação e a instabilidade econômica global têm afetado severamente a produção, as vendas e a rentabilidade das montadoras e dos fornecedores. Segundo especialistas, a crise pode se estender até 2023 ou além, com consequências negativas para o emprego, o meio ambiente e a competitividade do setor.
Um dos principais problemas que afeta a indústria automotiva é a escassez de semicondutores, componentes eletrônicos essenciais para os sistemas de injeção, freios, airbags, multimídia e conectividade dos veículos modernos. A demanda por esses chips aumentou exponencialmente com o avanço da tecnologia e da digitalização em diversos setores, como telecomunicações, informática, entretenimento e saúde. Por outro lado, a oferta foi reduzida por causa da interrupção das fábricas na Ásia, onde se concentra a maior parte da produção mundial de semicondutores.
A falta de semicondutores obrigou as montadoras a paralisar ou reduzir suas linhas de produção, gerando perdas bilionárias e atrasos na entrega dos veículos. Segundo um levantamento feito pela PwC, 42% dos fornecedores relataram algum tipo de problema financeiro no primeiro semestre de 2022. Além disso, a escassez de chips prejudica o desenvolvimento de veículos elétricos e autônomos, que são considerados o futuro da mobilidade e exigem uma maior quantidade de componentes eletrônicos.
Outro fator que impacta negativamente a indústria automotiva é a guerra na Ucrânia, que começou em 2022 e ainda não tem previsão de término. O conflito entre o país europeu e a Rússia aumentou as tensões geopolíticas e afetou o comércio internacional, especialmente o fornecimento de energia e de matérias-primas. A Ucrânia é um importante produtor de minério de ferro, usado na fabricação do aço, que é um dos principais insumos da indústria automotiva. A Rússia, por sua vez, é um grande exportador de gás natural e petróleo, que influenciam os custos de transporte e de produção.
A guerra na Ucrânia também contribuiu para o aumento da inflação nos Estados Unidos e no mundo, que já vinha sendo pressionada pela alta demanda por bens e serviços após o relaxamento das medidas de isolamento social. A inflação eleva os custos de produção e de consumo, reduzindo o poder de compra dos consumidores e a lucratividade das empresas. Segundo o J.P. Morgan, a inflação nos Estados Unidos deve ficar em torno de 5% em 2023, bem acima da meta do Federal Reserve (Fed), o banco central americano.
Diante desse cenário desafiador, as montadoras e os fornecedores estão buscando formas de se adaptar e sobreviver à crise. Algumas das estratégias adotadas são: renegociar contratos com clientes e fornecedores; diversificar fontes de suprimentos; investir em inovação e digitalização; reduzir custos operacionais; priorizar modelos mais rentáveis; buscar novos mercados; e fortalecer parcerias e alianças estratégicas.
No entanto, essas medidas podem não ser suficientes para garantir a recuperação do setor no curto prazo. Segundo Michael Robinet, diretor executivo da divisão automotiva de serviços da S&P Global Mobility, a situação dos chips melhorou sensivelmente nas primeiras semanas de 2023, mas o cenário ainda deve seguir crítico durante o ano. Além disso, há incertezas sobre o desempenho da economia global, que depende do controle da pandemia, da resolução dos conflitos geopolíticos e da atuação dos bancos centrais.
Assim, a indústria automotiva dos Estados Unidos enfrenta um dos seus maiores desafios na história, que pode comprometer sua competitividade e liderança no mercado mundial. Para superar a crise, o setor precisa de uma ação coordenada entre as empresas, os trabalhadores, os governos e a sociedade, visando garantir a sustentabilidade econômica, social e ambiental da atividade.